Mulheres na medicina veterinária
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Mulheres na medicina veterinária

No dia 08 de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher, e como em toda parte do mundo, há muitos motivos para homenageá-las. E na Medicina Veterinária isso também acontece, já que o futuro da Medicina Veterinária parece ser feminino!

Atualmente, o Brasil conta com em média 200 mil médicos veterinários em atividade, dos quais 58,4 mil, ou 49%, são mulheres.

Até os anos 1980, elas representa-vam apenas 20% da categoria.

Cada vez mais as mulheres têm se destacado em ambientes que no passado eram preferencialmente masculinos. Tanto que hoje é possível ter representantes femininas na área de animais selvagens, patologia clínica e zootecnia, por exemplo, assumindo cargos de liderança e também desenvolvendo atividades que antes eram mais comuns aos homens, como o manejo de grandes animais.

Registros indicam que a primeira mulher a se diplomar em medicina veterinária foi Nair Eugenia Lobo, que formou-se em 1929 pela Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária do Rio de Janeiro.

Em São Paulo, a primeira médica veterinária graduada foi Virginie Buff D’Apice, no ano de 1930. Formada pela Faculdade de Medicina Veteri-nária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, Virginie foi fundadora e primeira presidente da “International Women Auxiliary to the Veterinary Profession” e da “Associação Brasileira das Senhoras dos Médicos Veterinários”.

A Agência Pet aproveitou a data e perguntou à Médicas Veterinárias como elas se sentem nessa profissão:

Agência Pet – Você acha que no Brasil, hoje, ser mulher afeta como os clientes te vêem na profissão da Medicina Veterinária? Se sim, como? Acha que é positivo ou negativo, o fato de ser mulher, nesta profissão?

Helena – Na minha experiência não tive diferença em nenhuma das profissões que já tive, sempre os problemas são os mesmos: diferença de tratamento por parte de certo perfil de clientes, alguns não levam muito a sério e demonstram mais respeito ao lidar com homens. Então não vejo isso como algo exclusivo da MV mas sim, da sociedade como um todo.

Estela – Não acho que afete por ser veterinária, pois acho q em qualquer lugar ser mulher já é algo visto com menos respeito.
Já presenciei várias vezes essas situações. É impressionante como os tutores quando estão falando com veterinárias sao muitas vezes desrespeitosos, e como no mesmo contesto , mudam de atitude quando é um veterinário. Vejo muito isso pq trabalho em um lugar em que o dono é veterinário.

Rafaela – Na área de pequenos creio que a maior dificuldade é se posicionar, fazer o cliente confiar e acreditar no que você está falando. Muitas vezes, eles exautam a voz, falam palavras chulas e tudo mais quando você fala de um tratamento ou de valores. Mas eu nunca vi meus colegas homens falando disso, só as mulheres. Em alguns casos, quando já sabemos que o tutor dá trabalho, já pedimos para os homens atender, porque se exautam menos.

Vivian – Acho que não afeta de forma direta mas existe uma certa pressão no sentido estético e de como se portar (de como se vestir pra demonstrar celeridade e a forma de falar pra conseguir autoridade dos clientes).
A medicina veterinária de cães e gatos é uma profissão de cuidado e portanto acredito que ser mulher seja positivo pois já fomos socializadas desde a infância pra lidar com muitas situações que lidamos na profissão.

Mariana – Ser mulher no Brasil é um problema por si só no profissional, a maioria de nós é sim deixada para trás numa entrevista de emprego, os salários são menores e tudo o mais que vem junto. Fora as perguntas absurdas nas entrevistas e por parte dos clientes. Após 11 anos de formada posso dizer que hoje não deixo tutor vir pra cima não, pelo contrário, muitas vezes na clínica sou eu quem atende os tutores difíceis porque logo coloco no lugar. Onde trabalho somos em 4 veterinárias e 2 auxiliares do sexo feminino, contra 1 e 2 respectivamente do sexo masculino, os especialistas ainda são em sua maioria mulheres também e a maioria das vezes que vi tutor exaltado foi com os meninos, mas como disse, demorei para aprender a me impor e hoje ganhei o respeito de muitos ali. Mas que o preconceito existe não há dúvidas. Eu como mãe solteira e com 40 anos, recém chegada na cidade bem sei o quanto é difícil ganhar seu espaço.

Renée – Hoje em dia, o número de profissionais mulheres na medicina veterinária é maior do que o número de homens, de forma que os clientes têm se acostumado mais a lidar com mulheres dentro da clínica de pequenos animais. Nas áreas de grandes animais e alimentos, no entanto, essa realidade ainda é diferente. Especialmente porque os alunos entram na faculdade muito cedo, com cerca de 18 anos, quando se formam ainda são muito jovens e, naturalmente, inexperientes, o que pesa muito nessas áreas majoritariamente masculinas. Outras áreas, como a docência, a pesquisa, área de patologia também tem tido um número maior de mulheres. As profissionais também têm mudado sua forma de encarar os chefes, clientes e outros profissionais com os quais precisam lidar e têm tido uma postura mais assertiva com eles, o que tem causado um impacto bastante positivo na forma como se encara a presença da mulher na área. Infelizmente, situações de assédio (tanto moral, quanto sexual) ainda são frequentes, especialmente sobre as mulheres.

Isabela – No caso de diferença de gênero nunca tive esse problema, talvez pq na área de laboratório mulheres já sejam a maioria. Por incrível que pareça só obtive comentários machistas fora do mercado de trabalho, pasmem, dentro das universidades. Ouvi de professores que mulheres não deveriam fazer necropsias de grandes, isso enquanto eu dava a vida machadando a cabeça de um bovino.

Agência Pet – Você já presenciou algum preconceito com o fato de uma Veterinária ser mulher? O que aconteceu? Pode nos contar? Acha que se fosse um homem no lugar, a atitude seria diferente?

Helena– Hoje somos maioria, então já estamos posicionadas de uma forma diferente do que há uns 30, 40 anos atrás quando a maior parte dos profissionais eram homens. Apesar disso, ainda em algumas áreas creio haver sim preconceito e dificuldades como na área de grandes, por exemplo. Na minha atuação em pequenos, não vejo muito isso, talvez por sermos maioria mesmo.

Vejo sim muito machismo e preconceito por parte de clínicas na área de auxiliares. Muitas clínicas não contratam mulheres, apesar destes serem qualificadas e terem o curso, dão preferencia para homens ainda que sem preparo. Algumas clínicas até colocam no processo seletivo que não contratam mulheres. Vejo mais problemas na área dos auxiliares que na nossa em si (repito: na minha experiência)

Rafaela– Já presenciei um cirurgião ortopédico dizendo em aula que mulheres tem dificuldade nessa área porque precisa ter muita força pra mexer com os equipamentos, sendo que existem ortopedistas mulheres que são ótimas. Pedir para as mulheres atenderem algumas situações por serem mais sentimentais e emotivas; que a mulher x não tem força pra colocar determinado paciente na maca.

Vivian – No atendimento de cães e gatos eu não passei por nenhuma situação mas no ambiente político e do associativismo dentro da profissão, o machismo é velado e bem forte. Eu sempre me pergunto pq uma profissão com mais de 70% de mulheres não possui presidentes de conselhos, sindicatos e associações do sexo feminino.

Mariana – Já aconteceu de ter que entrar sempre acompanhada por algum colega (nem que fosse outra mulher) por conta de assédio, já tive que me impor sim quando tutor disse que eu não iria aguentar o cachorro dele que nem ele aguentava, mas profissionalmente não tive problemas por ser mulher. O pior sempre é o assédio, tanto por parte de tutores como pelos donos das clínicas. E olha que nem sou uma beldade, mas é cada cantada absurda que não vejo meus colegas homens receberem.

Renée – Sim. Já passei por diversos tipos de situação. As mais leves sendo o tutor se direcionar para falar com o estagiário, quando claramente eu era a veterinária atendendo. O inverso nunca aconteceu.

Isabela – No caso de diferença de gênero nunca tive esse problema, talvez pq na área de laboratório mulheres já sejam a maioria. Por incrível que pareça só obtive comentários machistas fora do mercado de trabalho, pasmem, dentro das universidades. Ouvi de professores que mulheres não deveriam fazer necropsias de grandes, isso enquanto eu dava a vida machadando a cabeça de um bovino.

Bárbara – Uma colega de Belo Horizonte relatou que numa entrevista de emprego (ela formada e recém casada), perguntaram a ela se ela tinha desejo em ter filhos, assim, na lata. Ela disse que no futuro sim. Na semana seguinte tinha um rapaz no cargo que ela estava pleiteando

Link de um podcast incrível sobre o assunto: https://open.spotify.com/episode/1MYGslIDSCNQYazK9sMXhc?si=d5TTyEj4T0-XKIXImd8S3w